A origem da docência se encontra no antigo Oriente, onde os sacerdotes e outros grupos influentes tinham o papel de transmitir os saberes religiosos. Nessa época, porém, não existiam professores, uma vez que se tratavam de práticas educativas comunitárias. Não haviam escolas, tudo era aprendido nas aldeias, sem professores. Posteriormente, essa educação primitiva e solidária dá lugar ao temor e ao terror, através da criação dos dogmas. A figura do docente aparece apenas na Grécia, onde surge o conceito de PAIDÉIA, termo traduzido como “formação integral do homem grego”.
A Paidéia, porém, aparece como uma “evolução” do areté, onde a excelência é representada pelo herói valente, corajoso. Mais tarde, esse conceito de excelência é aprimorado, passando a levar em conta, também, questões referentes as virtudes física e moral. Quando a tudo isso soma-se também a questão da cidadania, ou seja, a formação do grego enquanto cidadão, surge a Paidéia, na Grécia antiga.
Pode-se afirmar que a profissão docente propriamente dita surge exatamente com os gregos. Inicialmente praticada pelos poetas, com destaque para Homero e Hesíodo, eram trabalhadas a concepção heroica do ser humano, citando virtudes que iam das habilidades guerreiras à capacidade de reflexão. Embora não houvesse o objetivo de desenvolver a prática educacional, transmitiam valores, ideias e tradições; educavam, mas não eram educadores profissionais.
Com os avanços e a evolução da democracia grega, aumentaram as exigências em relação aos homens livres, para que participassem de maneira mais ativa da vida coletiva. Para isso, era preciso ter preparo para disputar e vencer batalhas verbais. Os versos de Homero e Hesíodo já não eram mais o bastante para orientar a população.
Desta forma, surge a figura do orador, substituindo o poeta. No contexto dessa nova cultura, surgem os primeiros profissionais da educação do Ocidente: os sofistas. Cabia a eles o papel de ensinar o homem a arte da retórica. Desta forma, pode-se constatar que a profissão docente “surge num contexto social por uma necessidade específica de transmitir conhecimentos e desenvolver outras aptidões”.
O ensino praticado pelos sofistas se apresentava como extremamente elitista, uma vez que cobravam elevados preços por suas aulas. Eram procurados por aqueles que tinham como interesse sobrepor suas vontades sobre as dos demais, buscando a capacidade de dissertar sobre ética, política e leis. De acordo com a lógica sofista, não existe verdade, apenas opiniões. Desta forma, vence aquele que tiver a maior capacidade de convencer, sustentando sempre teses relativistas e céticas.
O principal opositor apostura sofista foi Sócrates, que via a atividade docente como uma missão divina, que deve ser praticada com amor, a fim de mostrar os valores legítimos, a busca pela verdade, a construção dos parâmetros éticos e o cuidado com a alma. Criticava veementemente o relativismo e o ceticismo, que valorizava a retórica em depreciação da busca pela verdade. Falava em praça pública, vestido em trajes simples e falava para quem o quisesse ouvir. Sócrates não se considerava um sábio, apenas ajudava a “parir” ideias. Afirmava, ainda, que a verdade era alcançada através do autoconhecimento, estimulando os outros a, inclusive, reconhecer a própria ignorância. Seus ideais foram defendidos até as últimas consequências,
levando-o a morte.
Platão, discípulo de Sócrates, mantém inúmeros aspectos das teorias de seu mestre. Na lógica platônica, o ato de educar é semelhante ao de governar e, por isso, deve ser feito por sábios. Desta forma, o ato de educar deixa de ser função da família, passando a ser função do Estado, que educaria igualmente todos os jovens até os vinte anos, a fim de identificar a alma que cada um possuía. Os homens com alma de bronze seriam direcionados as práticas agrícolas, artesanato e comércios. Os com alma de prata, se tornariam guerreiros, defensores do Estados. Finalmente, os com alma de ouro seriam instruídos para governar. Assim como Sócrates, Platão defendia a ideia de que o processo educativo nunca acaba, “prolongando-se enquanto o homem existir”.
Algumas correntes pedagógicas continuam defendendo valores surgidos nos períodos socrásticos e platônicos onde, no processo de ensino-aprendizagem, o docente é transformado pelos discentes, ou seja, o ato de educar aparece como uma via de mão dupla, onde quem educa também é educado.
Porém, por ter se apresentado como uma tarefa social doméstica, a profissão docente acabou por ser desvalorizada ao longo dos anos. Para acentuar ainda mais tal desvalorização, a docência começou a ser vista como tarefa tipicamente feminina, como se o ato de educar fosse uma função a ser exercida obrigatoriamente pela mãe, ou seja, a mulher. Se tratando de uma estrutura social extremamente machista, a desvalorização da profissão passou a se apresentar, também, na questão da remuneração. Paga-se mal por se tratar de uma função especificamente feminina, que não exige uma intelectualidade aprimorada – já que representa apenas um prolongamento do papel da mãe, gerando, inclusive, o apelido carinhoso “tia”.
Em seu contexto atual, percebemos que o caráter transformador da educação defendido por Sócrates e Platão tornou-se peça chave para a formação do indivíduo e da sociedade.
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